Compartilhe esse artigo

Crescimento no fluxo de visitantes, fortalecimento da identidade indígena e ampliação da renda cultural marcam o desenvolvimento da Aldeia Formoso. A Lei 10.612/2017, aprovada pela Assembleia Legislativa de Mato Grosso, consolidou o ambiente jurídico que permitiu a expansão do turismo rural e indígena no estado.

A queda d’água da Aldeia Formoso, em Tangará da Serra, não é apenas um atrativo natural: tornou-se símbolo de uma transformação socioeconômica que atinge diretamente o povo Haliti-Paresi. Nos últimos anos, o etnoturismo deixou de ser apenas uma atividade complementar para se consolidar como uma das principais fontes de renda e visibilidade cultural das comunidades indígenas da região.

Estimativas da Secretaria Municipal de Cultura e Turismo apontam que o número de visitantes em roteiros indígenas cresceu entre 25% e 40% entre 2022 e 2024, impulsionado por rotas ecológicas, trilhas guiadas e demonstrações culturais que se tornaram referência no turismo sustentável do estado. A Aldeia Formoso, isoladamente, responde por uma fatia significativa desse movimento, recebendo grupos escolares, turistas nacionais e viajantes estrangeiros interessados em vivências imersivas.

Esse avanço só se tornou possível porque, em 2017, a Assembleia Legislativa de Mato Grosso aprovou a Lei nº 10.612, que regulamentou as atividades do Turismo Rural na Agricultura Familiar (TRAF). A legislação reconhece oficialmente práticas como demonstrações culturais, comercialização de artesanato, visitação ambiental e atividades educativas como instrumentos de desenvolvimento rural sustentável. Ao legitimar esse tipo de atividade, a lei criou um marco institucional que fortaleceu comunidades tradicionais, assentamentos e, especialmente, aldeias indígenas que já desenvolviam práticas culturais com potencial turístico.

TURISMO RURAL – Redação da Lei …

Segundo o texto da lei, atividades como artesanato, visitação ecológica e interação cultural são consideradas instrumentos legítimos de desenvolvimento socioeconômico, o que ampliou as possibilidades de formalização e apoio público às comunidades envolvidas. Desde então, relatórios da Secretaria de Turismo mostram que Tangará da Serra se tornou um dos municípios com maior potencial turístico indígena no Médio-Norte mato-grossense, atraindo não apenas visitantes, mas também investimentos e políticas públicas.

O impacto econômico é visível na própria aldeia. A comercialização de artesanato Haliti-Paresi cresceu de forma consistente após 2020, com aumento da circulação financeira em torno de peças tradicionais, cestarias, vestimentas e ornamentos cerimoniais. As famílias envolvidas no turismo relatam ampliação da renda própria, maior autonomia financeira e novas oportunidades para jovens indígenas que atuam como guias culturais, intérpretes e produtores de conteúdo. Serviços como alimentação típica, trilhas monitoradas e apresentações culturais passaram a compor um microecossistema econômico que fortalece a comunidade de dentro para fora.

Entre os pesquisadores que estudam esse fenômeno está Anderson Lucas, acadêmico do curso de Jornalismo da Unemat. Em seu trabalho de Iniciação Científica sobre o impacto socioeconômico do turismo indígena em Tangará da Serra, ele afirma que o crescimento da atividade tem gerado efeitos diretos e indiretos na economia local.

“Nossos levantamentos mostram que o fluxo de visitantes movimenta desde a compra de artesanato até o uso de serviços de alimentação, hospedagem e transporte. A aldeia cria um impacto positivo que se espalha pelo entorno e pela cidade, formando redes econômicas que valorizam tanto a cultura quanto o meio ambiente”, explica.

O pesquisador destaca ainda que a legislação estadual teve papel fundamental nesse processo.

“A Lei 10.612 permitiu que comunidades rurais e tradicionais, incluindo aldeias indígenas, tivessem respaldo institucional para desenvolver atividades turísticas com segurança jurídica. Isso facilita parcerias, captação de recursos e participação em eventos de grande porte, como a FIT Pantanal e a ABAV Expo, onde Tangará da Serra ganhou destaque nacional”, completa Anderson

Segundo informações da própria Secultur, a participação de Tangará da Serra na FIT Pantanal 2025 apresentou aumento de mais de 30% na procura por informações sobre o etnoturismo Haliti-Paresi, demonstrando o interesse crescente do público e de agências especializadas. Na ABAV Expo, em 2025, o estande do município recebeu mais de 1.200 visitantes em três dias de evento — número considerado expressivo para um destino emergente.

Para o povo Haliti-Paresi, esse processo tem significado não apenas renda, mas fortalecimento identitário. Atividades como o ritual do “Hitó”, pinturas corporais, narrativas ancestrais e oficinas culturais ajudaram a consolidar uma imagem pública mais justa e respeitosa sobre os povos indígenas da região. A convivência com visitantes tem contribuído para ampliar a autoestima comunitária e reforçar o protagonismo indígena na gestão de seus próprios territórios turísticos.

O professor Gibran Luis Lachowski, pesquisador da Unemat, reforça que o modelo adotado em Tangará da Serra é hoje referência no estado.

“Temos visto um avanço significativo na organização das atividades, sempre sob a perspectiva da autonomia indígena. Para além do aspecto cultural, há impactos econômicos e sociais que mostram a importância do etnoturismo como política pública. É impossível dissociar esse movimento da legislação aprovada pela ALMT”, afirma.

Com a regulamentação do turismo rural e a abertura de linhas de apoio previstas na lei, Mato Grosso criou as condições necessárias para que iniciativas locais florescessem. Hoje, rotas indígenas e rurais integram calendários oficiais, atraem investimentos e fortalecem a economia criativa do interior do estado. Na Aldeia Formoso, esse conjunto de ações se traduz em oportunidades reais e sustentáveis para as famílias Haliti-Paresi, preservando tradições ao mesmo tempo em que ampliam sua inserção nas dinâmicas econômicas da região.

O cenário atual mostra que, quando políticas públicas e protagonismo comunitário caminham juntos, o turismo se torna ferramenta de transformação. A Assembleia Legislativa, ao estruturar a base legal para o turismo rural e sustentável, contribuiu de forma decisiva para que Tangará da Serra se tornasse um dos destinos mais respeitados quando o assunto é etnoturismo. Um movimento que continua em expansão e reafirma o papel da cultura indígena como parte essencial da vida e da história mato-grossense.